O Sistema Espeleológico do Dueça inclui várias cavidades de natureza cársica, entre as quais a se destacam o Olho do Dueça, a Gruta do Algarinho, o Soprador do Carvalho e o Sumidouro da Várzea. O Olho do Dueça constitui a principal surgência actual do sistema e o Sumidouro da Várzea a sua principal perda. Outrora, quando o nível de erosão do maciço era menor, a principal surgência seria a Gruta do Algarinho. Este sistema tem, segundo informações online por parte de grupos de espeleologia que tem explorado o Dueça, referenciadas quinze cavidades, totalizando cerca de 7000 m de galerias topografadas, numa área de aproximadamente 15 km 2. A mais longa é a Gruta do Soprador do Carvalho, junto de Taliscas, que possui cerca de 3 km de extensão topografados e com extensão estimada de 4.5 km.
A designação de paisagem cársica deriva da palavra karst, que se utilizou para nomear os aspectos morfológicos da paisagem calcária na ex- Jugoslávia, e que foi adoptada internacionalmente. Na verdade este tipo de paisagem forma-se em rochas carbonatadas, em que se incluem os calcários e dolomias, por acção modeladora da água. Estas rochas são muito sensíveis, não só à habitual acção física da água, mas também à sua acção enquanto agente químico. A água da chuva, que mesmo em zona completamente despoluída é naturalmente ácida por dissolução do CO2 atmosférico, exerce uma dissolução sobre estas rochas penetrando nas suas fracturas. Dado que estas rochas são principalmente formadas por calcite, mineral muito sensível aos ácidos, assiste-se a uma contínua dissolução do maciço rochoso e, com o tempo, passa-se de um regime de circulação superficial para um regime de circulação subterrânea com um enriquecimento da água em bicarbonato de cálcio. Desta acção físico-química da água resultam aspectos superficiais e subterrâneos muito característicos da paisagem dos maciços calcários.
Em vários pontos do concelho de Penela e concelhos vizinhos, cujos territórios se integram no Maciço Calcário de Sicó, encontram-se calcários, datados do Jurássico médio, onde é possível encontrar aspectos paisagísticos como as dolinas, reculée, canhões e lapiás .Como ponto alto, desta expressão superficial do modelado cársico na nossa região, aconselho os leitores a uma visita ao Casmilo, no concelho vizinho de Condeixa, onde podem observar um canhão fluviocársico acompanhado das buracas e um campo de lapiás deveras notável!
As grutas são a expressão mais alargada de um sistema de circulação subterrâneo, que inclui galerias, salas e poços, a que muitas vezes se tem acesso através de aberturas verticais, de origem natural, chamadas algares. Além dos aspectos geológicos e morfológicos as grutas são também importantes, do ponto de vista biológico e ecológico, já que são muitas vezes dotadas de espécies únicas, resultantes da evolução isolada em meio ambiente muito especial, nomeadamente no que toca às condições de luminosidade, e são refúgio natural para os vulneráveis morcegos. Por outro lado os achados pontuais nos campos da paleontologia e arqueologia, veja-se o achado da lança de bronze na Gruta do Algarinho, trazem aos portugueses conhecimentos sobre o passado da História Natural e Humana do território que é hoje Portugal.
Outro aspecto importantíssimo é o regime e controlo dos recursos hidrológicos das zonas calcárias que estão intimamente dependentes destes sistemas subterrâneos. Nas regiões calcárias os recursos hídricos são extremamente vulneráveis à poluição, devido em grande parte à elevada velocidade de infiltração das águas pluviais, o que acarreta grandes problemas de contaminação dos aquíferos se não houver um cuidado acrescido, de todos nós, em evitar focos de poluição doméstica, agrícola e industrial. Os poluentes rapidamente chegarão à água do subsolo, degradando a sua qualidade, e serão devolvidos ao homem pela Mãe Natureza em tempo recorde!
Muito impacto, sobre quem as observa, tem as estruturas líticas que pendem dos tectos e crescem do chão das grutas fazendo adivinhar formas na imaginação de cada um… são as estalactites e estalagmites. Estas estruturas resultam do facto das águas, em circulação subterrânea, acabarem por ficar saturadas em bicarbonato de cálcio e, por mudanças de condições ambientais, proporcionam uma nova deposição da calcite através de uma reacção química inversa à ocorrida aquando da dissolução da rocha. Esta nova deposição leva à formação destas estruturas que por vezes, crescendo do chão e do tecto da gruta, se unem dando origem a colunas. A beleza das estalactites e estalagmites está na base da exploração comercial de muitas cavidades cársicas, por esse mundo fora, Portugal não é excepção, com alguns desses locais a revelarem verdadeiras mutilações e artificialidades a bem do lucro. Não é felizmente, pelo menos em larga escala, o caso das grutas que se incluem nesta jóia natural penelense que é o Sistema Espeleológico do Dueça.
Fontes on-line consultadas
http://www.7maravilhas.sapo.pt/#/pt/pre-finalistas (em 19 de Fevereiro de 2010)
http://www.gps-sico.org/ (em 20 de Fevereiro de 2010)
http://www.nec-espeleo.org/grutas/varzeadueca.htm (em 20 de Fevereiro de 2010)
http://www.cm-penela.pt/noticias.php?idnoticia=607 (em 20 de Fevereiro de 2010)
Nota: fragmento de texto mais extenso escrito em fevereiro de 2010 na grafia anterior ao acordo.